Juro que resisti. Muito. Lutei desesperadamente para não mexer nesse angu. Mas, não dá. A estupidez é tamanha, que a gente acaba se envolvendo e, quando menos se espera, lá estão os dedos no teclado do computador, porque a cabeça fervilha de indignação.
A questão, é claro, é o tal do cartão corporativo do Governo. Vai ser o mico do ano. Anotem.
Esses caras (nem vale a pena citá-los como jornalistas ou repórteres, de tão baixo o nível dessa gente) nunca trabalharam em grandes empresas que adotam o uso de cartão, ou pagam despesas de funcionários que viajam? São uns idiotas, portanto? Nunca tiveram que prestar contas de diárias de hotel, de refeições, de táxi? Não sabem como funciona isso em empresa particular? São completamente alienados?
Não. Não são alienados. Mas querem que o povo seja idiota e alienado. Por isso, fazem todo esse escarcéu com os gastos dos cartões corporativos do Governo. Que Governo? De São Paulo, é claro! Afinal, a máquina governista do Serra gastou, em 2007, 108 milhões de reais!
Não é um absurdo?
Não. Provavelmente, não. Porque a máquina administrativa é, realmente, cara. Há gastos improváveis, até risíveis, se deslocados do contexto. Por que, por exemplo, um funcionário iria gastar, suponhamos, mil reais, num supermercado, com papel higiênico? Um absurdo, diriam todos. Mas, se esse funcionário é responsável pelo gasto de toda uma repartição com centenas de funcionários, isso passa a ser plenamente possível. E justificável.
Há, é lógico, gente que se aproveita. Ou se descuida. E usa o cartão para despesas estritamente pessoais. Isso, no entanto, qualquer auditoria (e os governos têm órgãos especializados para isso) pega e autua o funcionário, fazendo-o ressarcir os cofres públicos ou punindo-o. Como qualquer empresa privada. Que também tem problemas com esse tipo de despesa. Porque não há um sistema infalível de controle, nem um sistema infalível contra pequenas fraudes.
Ou pequenos arranjos.
Na empresa em que eu trabalhei, por exemplo, havia a seguinte distorção: quando viajava, para um congresso, um encontro de profissionais da área, não era incomum ser obrigado a convidar pessoas para almoçar comigo. E aí, o bicho pegava. Primeiro, porque não tinha verba para isso (só o vale-alimentação, que dava para o almoço no bar da esquina, mas não num restaurante mais elegante). Por outro lado, gastos com táxi eram praticamente livres (dentro de alguns parâmetros). Então, o que eu fazia? Programava meus deslocamentos por transporte público e reservava a verba do táxi para esse tipo de gasto. Estava errado? Sim e não. Não roubava, mas também não era totalmente honesto com a empresa. Apenas fazia um arranjo. Para não sair no prejuízo. Porque não havia outro jeito.
O mesmo deve ocorrer por aí, em toda e qualquer empresa. Pública ou privada.
Os gastos diários de uma casa de cinco pessoas, como a minha, são altos. E administrá-los é sempre um problema. Não dá para controlar tudo. Imagine-se, então, um governo como o de São Paulo, que tem milhares, senão milhões, de funcionários, com demandas que vão desde um simples rolo de papel higiênico até helicópteros. São milhares de itens a serem comprados todos os dias. Presume-se que quem os compre seja honesto. Se não for, há os mecanismos naturais de correção de desvios. Além, é claro, do povo, que pede transparência nos gastos públicos, com muita justiça, aliás.
Então, toda essa gritaria dos idiotas da imprensa não tem outro objetivo do que fazer marola, querer jogar nas costas do Governo um problema secundário, mas importante, como se fosse o maior escândalo do mundo.
Está bem: concordo que gastar 108 milhões por ano é muito. Mas, tenho certeza de que o Governador Serra, um homem probo, político experiente, que governa com transparência e sabedoria o nosso Estado, saberá colocar em campo seus auxiliares para explicar, muito bem explicadinho, cada centavo gasto. E, se houver desvios, os responsáveis serão devidamente punidos.
Ah! E tem mais: nosso Governador deverá, em breve, colocar na Internet a relação de todos os gastos, tintim por tintim, para calar o bico de todos os detratores! Porque transparência é isto: abrir todas as contas, não temer investigações nem CPIs, que a oposição já está pedindo. Será mais uma, dentre as dezenas de CPIs por que o nosso Governador já passou, incólume, sem nenhum sinal de escândalo, sem nenhum prejuízo para sua grande administração.
E os idiotas da mídia que fizeram esse escândalo todo ficarão com o maior mico da história.
Isaias Edson Sidney
Obs.: Permitida e, até, incentivada a divulgação, desde que citados o autor e, pelo menos, o blog Veneno de Cobra.
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