sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Santo Ofício da TV Globo

O "Tribunal do Santo Ofício" global revela-se por completo em uma entrevista. Insatisfeito com uma resposta, o repórter pergunta: "Esse é um compromisso que o senhor assume perante o público do Jornal da Globo?". Eis um belo momento de auto-representação da mídia. Cabe a ela, e somente a ela, o papel da justiça. A análise é de Gilson Caroni Filho.
Se o objetivo de uma entrevista é assegurar o direito do público em ser informado, fica difícil definir qual a natureza do exercício praticado pelo repórter Heraldo Pereira ao entrevistar o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), indicado pela liderança do partido para relatar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos cartões corporativos.O que assistimos no Jornal da Globo (28/02/2008) guarda alguma semelhança com prática jornalística ou obedece a construções simbólicas que têm por objetivo caracterizar parlamentares governistas, em especial os do Partido dos Trabalhadores, como delinqüentes contumazes? Pessoas sob permanente suspeita, que devem ser inquiridas com técnicas policiais de interrogatório. O que procurava Heraldo Pereira? Um contato informal, sem pré-julgamentos, visando à obtenção de informações relevantes ou estabelecer ligações com o “suspeito", valendo-se de uma conversa aparentemente descontraída, que não oculta uma atmosfera carregada de intimidação?A trama começa com William Waack, no estúdio, perguntando ao repórter qual teria sido o cálculo político que levou o governo a aceitar que a presidência da Comissão fosse ocupada por um parlamentar do PSDB. Pereira, em Brasília, desfia uma série de motivos mostrando um “governo acuado”, sem alternativas e em seguida é apresentada a entrevista com o deputado petista.O tom jocoso reforça a suspeição prévia. O que se pretende é consolidar a premissa da cobertura. Há um parlamentar que, pela própria filiação partidária, não inspira confiança. A postura é inquisitorial como veremos a seguirA primeira pergunta não deixa dúvidas quanto a motivações “Acordo do PT e PSDB. Vai ter acordo na CPI também"? Estamos diante de um questionamento jornalístico ou de uma provocação política? A desqualificação prévia do entrevistado revela argúcia do entrevistador? Cremos que uma afirmação de Nílson Lage se encaixa como luva nesse caso:"O comportamento de alguns repórteres de vídeo deixa dúvidas sobre quem deve ser a "estrela" da entrevista. Todos sabem que a "estrela" deve ser sempre o entrevistado, "por mais conhecido e vaidoso que seja o repórter".As demais seguirão a mesma toada: "A investigação vai ser mesmo pra valer ou muita coisa vai ser colocada debaixo do pano por causa do acordo político?" Notemos que o entrevistado já havia declarado inexistir qualquer tipo de acordo. Trata-se, portanto, de deixar evidente que o suspeito tem motivos para cometer o crime. Quando Luiz Sérgio afirma que "não está na CPI para ser advogado de ninguém", Heraldo indaga: "nem do governo?". Estamos diante de um profissional que não quer respostas e muito menos aceita objeções. O fundamental é extrair do entrevistado algo que pareça confissão de culpa. O repórter vive seu momento de inquisidor e se diverte com o papel.O “Tribunal do Santo Ofício" global se revelará por completo nas duas últimas interpelações feitas ao deputado.“O senhor vai proteger alguém como relator?" Diante da negativa, Heraldo Pereira arremata: "Esse é um compromisso que o senhor assume perante o público do Jornal da Globo?". Eis um belo momento de auto-representação da mídia. Cabe a ela, e somente a ela, o papel de justiça em última instância. Esqueçamos a supremacia do interesse coletivo sobre o privado. O que conta é elaborado nas grandes oficinas de consenso. Nos processos da inquisição, a denúncia era prova de culpabilidade, cabendo ao acusado a prova de sua inocência. O "Directorium Inquisitorum"( Manual dos Inquisidores) definia normas processuais, termos e modelos de sentença a serem utilizados. Pelo que temos presenciado - e essa entrevista está longe de ser uma prática desviante- cabe às corporações midiáticas reescrever o direito canônico contemporâneo. Para tanto é preciso audiência e bastante fervor na fé mercantil.Oremos por todos.

Publicado originalmente na Agência Carta Maior

O vídeo pode ser acessado aqui

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Caso Veja por Luis Nassif

Pessoal,

Vamos ler, entender e divulgar o "dossiê Veja" que o Luis Nassif está escrevendo e dar-lhe força.

O Caso Veja:
Cap.I Os momentos de catarse e a mídia
http://luis.nassif.googlepages.com/home
Cap.II A mudança de comando
http://luis.nassif.googlepages.com/amudan%C3%A7adecomando
Cap.III A guerra das cervejas
http://luis.nassif.googlepages.com/casofemsa
Cap.IV O caso André Esteves
http://luis.nassif.googlepages.com/ocasoandr%C3%A9esteves
Cap.V O caso COC
http://luis.nassif.googlepages.com/ocasococ
Cap.VI Primeiros ataques a Dantas
http://luis.nassif.googlepages.com/primeirosataquesadantas
Cap.VII Assassinatos de reputação
http://luis.nassif.googlepages.com/osassassinatosdecar%C3%A1ter
Cap.VIII O quarteto de Veja
http://luis.nassif.googlepages.com/dantassemove
Cap.IX Os primeiros serviços
http://luis.nassif.googlepages.com/osjornalistasdedantas
Cap.X O caso Edson Vidigal
http://luis.nassif.googlepages.com/ocasoedsonvidigal
Cap.XI O dossiê falso
http://luis.nassif.googlepages.com/odossi%C3%AAfalsificado

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

OS BANDIDOS ESTÃO VENCENDO

("EU FALO SETE LÍNGUAS LULA NEM CONSEGUE FALAR PORTUGUÊS CORRETAMENTE" – FHC)

Laerte Braga(*)

Fernando Henrique Cardoso tinha a obrigação, exatamente por falar sete línguas além do português e ter todos os títulos que tem, de ser o melhor presidente dentre todos os presidente ao longo de toda a história passada, presente e futura do Brasil. Foi o pior, foi o governo mais corrupto de todos os tempos.
Tancredo Neves tinha aversão a FHC. Quando eleito presidente, em 1984, começou a ser bombardeado por "amigos" do homem das sete línguas para que o escolhesse ministro. A conversa era por esse terreno. Aval da esquerda (putz!) ao governo. Um intelectual respeitado internacionalmente para abrir portas. Esses golpes típicos de tucanos.
Tancredo não embarcou na canoa. Sabia que era furada.
FHC vendeu seu peixe a Itamar Franco, mistura de sou, mas não sou e que pensa que algum dia foi presidente da República. Descolou sua candidatura planejada em Washington e em Wall Street, nas costas do Plano Real. Tentou antes ser ministro de Collor para "salvar" o governo e o projeto neoliberal do caçador de marajás. Covas não deixou.
Quando foi escolhido ministro das Relações Exteriores de Itamar havia comunicado aos amigos que seria candidato a deputado federal em 1994. Não iria tentar a reeleição para o Senado. As pesquisas mostravam que não seria reeleito e não queria ficar sem mandato.
Tratou de azeitar o caminho e é célebre a frase, já ministro da Fazenda, célebre pela cretinice, dita aos formuladores do Plano Real (Brizola no debate entre candidatos em 1994 disse que "esse plano vem de longe") que temiam a reação de Itamar: "deixem Itamar comigo, eu o convenço".
Convencer Itamar é o mais fácil. Basta ajoelhar e dizer que o dito está assentado à direita do Pai. Não precisa mais nada e FHC sabia disso, tanto que, presidente, tratou de dar-lhe um pontapé preciso no traseiro presunçoso.
E romper o trato (é especialista nisso, não tem palavra e nem caráter, não é imoral, é amoral) de apoiá-lo em 1998. Inaugurou o mensalão com a compra de votos de deputados e senadores para aprovar a reeleição.
FHC sabe que não tem chances sequer de ser senador. É o político mais rejeitado do País ao lado de notórios bandidos como Paulo Maluf, Joaquim Roriz e outros. Mas não admite perder o controle e é homem de confiança de Wall Street.
Essa história de cartões corporativos é bem mais complexa que os cartões propriamente ditos. Isso pouco interessa a FHC. Nutre esperanças de vir a ser secretário de Estado caso Hilary Clinton seja eleita presidente dos EUA.
Todos as denúncias levantadas contra o governo Lula fazem parte do projeto norte-americano para o Brasil, ainda mais agora, com a realidade de governos de esquerda tanto na América do Sul como na América Central. O Brasil é a chave dessa jogada toda e isso Nixon já dizia.
Nem tanto absorver Lula que paga o preço de tentar equilibrar-se numa corda roída, a da institucionalidade, deixando de lado os compromissos históricos do PT e dele próprio.
Mas é um golpe que se tenta. Terminado o período Lula o que os acionistas do Brasil S/A querem é alguém confiável e capaz de implementar as políticas de Washington/Wall Street.
Em termos de Brasil isso significa completar o processo de privatização da PETROBRAS (grupos estrangeiros detêm o controle da maioria das ações preferenciais). Privatizar o Banco do Brasil. Entrar no jogo de Amazônia internacionalizada na concepção de Al Gore. Arrematar o "negócio", passar escritura na conversa fiada dos tratados de livre comércio, ressuscitar a ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas).
Os oito anos de Lula serão jogados no limbo e os anos seguintes retomam a agenda neoliberal in totum, sem qualquer restrição.
Todas as denúncias têm esse caráter e visam construir 2010. Não importa que o governador de São Paulo José Serra tenha cartões corporativos em sua administração e que mais de cem milhões de reais tenham sido gastos no ano de 2007, pois o papel da mídia, comprada e comprável (GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, ÉPOCA, a mídia regional, RECORDE, SBT, etc) é esconder o jogo e tratar o telespectador/leitor como Homer Simpson, na definição de um robô vestido de gente, William Bonner.
Nem importa que a privatização da VALE DO RIO DOCE tenha sido um crime contra a soberania nacional. Ou que toda a sorte de trapaças tenha sido cometida em seu período.
FHC foi o condutor de um processo de recolonização do Brasil. Lula não rompeu por inteiro esse processo, mas provocou e provoca fendas que abalam os projetos futuros dos donos do mundo.
Energia é a palavra chave. Petróleo (ainda mais agora com a descoberta de novas reservas, de campos de gás natural). Água. Bases para enfrentar adversários como Chávez, Evo Morales, Castro, Ortega, Corrêa (Equador), eventuais desacordos com os governos do Chile e da Argentina e o risco que a fazenda Paraguai venha cair em mãos da esquerda nas eleições deste ano.
PSDB/DEM, toda essa turma que arrota a hipocrisia da moralidade nos negócios públicos, que cobra de Lula o que nunca fizeram, cumpre esse papel.
A proposta do PT de uma CPI que apure gastos com os cartões corporativos desde 1998 assusta e não interessa a essa gente. Foi o que disse o mais dissimulado dos senadores, Álvaro Dias. Querem apenas apurar os gastos no governo Lula. O deles é secundário. Está incorporado à prática política que exercem desde tempos imemoriais.
Os bandidos estão vencendo.
Lula enfrenta armadilhas dentro da própria infantilidade de seus companheiros de partido, ou o deslumbramento de figuras guindadas a funções de governo e que metem os pés pelas mãos.
O problema da corrupção não é só uma questão de moral ou conduta nos negócios públicos. Transcende a isso e essa é a diferença entre Lula e FHC.
Lula não fala sete línguas, volta e meia erra o português, mas tem, ele Lula, algo que FHC e suas sete línguas não tem. Dignidade pessoal.
O que se assiste é a tentativa de desmoralizar um presidente da República com objetivos de pegar a chave do cofre e entregá-la aos acionistas que controlam o Estado brasileiro.
O Estado DASLU/FIESP. Sonegadores, lavadores de dinheiro, o de sempre. O preconceito mal disfarçado das elites.
De colocar um governo de joelhos e neutralizar as fendas abertas por setores responsáveis e lúcidos do governo (Celso Amorim, Patrus Ananias, Luís Dulci e outros evidente) não importa o espectro dentro do campo da esquerda, é outra história.
Na cabeça dessa gente é preciso reverter o voto dos nordestinos. A elite paulista sempre achou que o Nordeste era um adereço desnecessário, mas sempre explorou os migrantes. O voto de cada cidadão que não se deixa ludibriar por GLOBOS da vida. Impor a candidatura José Serra, projeto neoliberal que "vem de longe".
Encher a cabeça da classe média (mérdia) que acredita que faz parte desse projeto, desse "negócio" e não percebe que é apenas adereço colorido, tipo bola sete nas sinucas onde encaçapam um país e um povo.
A opção é simples. É de sobrevivência da classe trabalhadora. A teimosa luta de classes disfarçada em matizes DASLU/FIESP de progresso como privilégio de elites que hoje são, por si, adereços dos donos do mundo.
Apátridas.
E nem se trata de ser patriota. Costuma ser o "último refúgio dos canalhas" (Samuel Johnson).
Trata-se de perceber que o Estado está falido, o modelo esgotado e essa "institucionalidade" é farsa.
O erro de Lula terá sido o de não ter percebido isso. Nem por isso o golpe é aceitável.
Há léguas de distância entre Lula (que fala errado, mas tem caráter) e FHC (que fala certo e representa a amoralidade do neoliberalismo).
Quem não perceber isso vai acabar dentro de uma caçapa escura guardada numa pasta cheia de podridões.
Eles estão apenas reformando as mesas de sinuca. Preparando as bolas e os tacos para voltarem ao poder.
E não pense que o preconceito é só contra quem fala o português de forma incorreta e não fala pelo menos mais uma língua, a da colônia, o inglês. É contra você cara pálida louro/a, moreno/a, negro/branco, que acha que VEJA tem a receita certa da elegância e do sucesso.
Tem não. Sabem é fazer pastel e encher desse vento fátuo da falsa moralidade. Isso tem nome.
Mentira.

(*)
Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O MICO DO ANO, ALIÁS, MAIS UM

9.2.2008

Juro que resisti. Muito. Lutei desesperadamente para não mexer nesse angu. Mas, não dá. A estupidez é tamanha, que a gente acaba se envolvendo e, quando menos se espera, lá estão os dedos no teclado do computador, porque a cabeça fervilha de indignação.

A questão, é claro, é o tal do cartão corporativo do Governo. Vai ser o mico do ano. Anotem.

Esses caras (nem vale a pena citá-los como jornalistas ou repórteres, de tão baixo o nível dessa gente) nunca trabalharam em grandes empresas que adotam o uso de cartão, ou pagam despesas de funcionários que viajam? São uns idiotas, portanto? Nunca tiveram que prestar contas de diárias de hotel, de refeições, de táxi? Não sabem como funciona isso em empresa particular? São completamente alienados?

Não. Não são alienados. Mas querem que o povo seja idiota e alienado. Por isso, fazem todo esse escarcéu com os gastos dos cartões corporativos do Governo. Que Governo? De São Paulo, é claro! Afinal, a máquina governista do Serra gastou, em 2007, 108 milhões de reais!

Não é um absurdo?

Não. Provavelmente, não. Porque a máquina administrativa é, realmente, cara. Há gastos improváveis, até risíveis, se deslocados do contexto. Por que, por exemplo, um funcionário iria gastar, suponhamos, mil reais, num supermercado, com papel higiênico? Um absurdo, diriam todos. Mas, se esse funcionário é responsável pelo gasto de toda uma repartição com centenas de funcionários, isso passa a ser plenamente possível. E justificável.

Há, é lógico, gente que se aproveita. Ou se descuida. E usa o cartão para despesas estritamente pessoais. Isso, no entanto, qualquer auditoria (e os governos têm órgãos especializados para isso) pega e autua o funcionário, fazendo-o ressarcir os cofres públicos ou punindo-o. Como qualquer empresa privada. Que também tem problemas com esse tipo de despesa. Porque não há um sistema infalível de controle, nem um sistema infalível contra pequenas fraudes.

Ou pequenos arranjos.

Na empresa em que eu trabalhei, por exemplo, havia a seguinte distorção: quando viajava, para um congresso, um encontro de profissionais da área, não era incomum ser obrigado a convidar pessoas para almoçar comigo. E aí, o bicho pegava. Primeiro, porque não tinha verba para isso (só o vale-alimentação, que dava para o almoço no bar da esquina, mas não num restaurante mais elegante). Por outro lado, gastos com táxi eram praticamente livres (dentro de alguns parâmetros). Então, o que eu fazia? Programava meus deslocamentos por transporte público e reservava a verba do táxi para esse tipo de gasto. Estava errado? Sim e não. Não roubava, mas também não era totalmente honesto com a empresa. Apenas fazia um arranjo. Para não sair no prejuízo. Porque não havia outro jeito.

O mesmo deve ocorrer por aí, em toda e qualquer empresa. Pública ou privada.

Os gastos diários de uma casa de cinco pessoas, como a minha, são altos. E administrá-los é sempre um problema. Não dá para controlar tudo. Imagine-se, então, um governo como o de São Paulo, que tem milhares, senão milhões, de funcionários, com demandas que vão desde um simples rolo de papel higiênico até helicópteros. São milhares de itens a serem comprados todos os dias. Presume-se que quem os compre seja honesto. Se não for, há os mecanismos naturais de correção de desvios. Além, é claro, do povo, que pede transparência nos gastos públicos, com muita justiça, aliás.

Então, toda essa gritaria dos idiotas da imprensa não tem outro objetivo do que fazer marola, querer jogar nas costas do Governo um problema secundário, mas importante, como se fosse o maior escândalo do mundo.

Está bem: concordo que gastar 108 milhões por ano é muito. Mas, tenho certeza de que o Governador Serra, um homem probo, político experiente, que governa com transparência e sabedoria o nosso Estado, saberá colocar em campo seus auxiliares para explicar, muito bem explicadinho, cada centavo gasto. E, se houver desvios, os responsáveis serão devidamente punidos.

Ah! E tem mais: nosso Governador deverá, em breve, colocar na Internet a relação de todos os gastos, tintim por tintim, para calar o bico de todos os detratores! Porque transparência é isto: abrir todas as contas, não temer investigações nem CPIs, que a oposição já está pedindo. Será mais uma, dentre as dezenas de CPIs por que o nosso Governador já passou, incólume, sem nenhum sinal de escândalo, sem nenhum prejuízo para sua grande administração.

E os idiotas da mídia que fizeram esse escândalo todo ficarão com o maior mico da história.

Isaias Edson Sidney

Obs.: Permitida e, até, incentivada a divulgação, desde que citados o autor e, pelo menos, o blog Veneno de Cobra.

http://www.venenodecobra2003.blogger.com.br

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cartilha da Febre Amarela



Semana passada, o Luiz Carlos Azenha me procurou com um pedido: a jornalista Conceição Lemes, leitora deste blog e com quem conversei por telefone há alguns dias sobre a questão da febre amarela e o alarmismo da mídia, enviou ao jornalista um material que ele repassaria a blogs determinados para, em corrente, contribuirmos para o esclarecimento da opinião pública, que acaba de ser vítima dos grandes meios de comunicação por conta da disseminação de notícias falsas sobre o Brasil estar sob uma epidemia de febre amarela.

Conceição Lemes atua como jornalista especializada em saúde há 25 anos. Já ganhou 22 prêmios por reportagens nessa área. Entre eles, o Esso de Informação Científica e José Reis de Jornalismo Científico, concedido pelo CNPq. Conquistou também vários prêmios Abril de Jornalismo, a maioria por matérias publicadas na revista Saúde!, da qual foi repórter, editora-assistente, editora e redatora-chefe. Em 1995, foi com a reportagem "Aids - A Distância entre Intenção e Gesto", publicada pela revista Playboy. O projeto que desenvolveu para essa matéria foi selecionado para apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em 1994 no Japão. Pela primeira vez um jornalista brasileiro teve o seu trabalho aprovado para esse congresso. Concorreu com cerca de 5 mil trabalhos enviados por pesquisadores de todo o mundo. Aproximadamente 300 foram escolhidos para apresentação oral, sendo apenas dez de investigadores brasileiros. Em conseqüência, foi ao Japão como consultora da Organização Mundial de Saúde.

Reproduzo abaixo, em duas partes, esse verdadeiro tratado sobre a febre amarela.


*

Febre Amarela

por Conceição Lemes


Fim de dezembro de 2007. Surge o primeiro caso suspeito de febre amarela deste verão. Rapidamente, o assunto domina o noticiário. A mídia, por conta própria, decreta: a febre amarela voltou. O auge foi conclamar a população a se vacinar em massa. "Um verdadeiro crime contra a saúde pública brasileira", condena o médico epidemiologista Euclides Castilho, professor titular do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.

A primeira vez que se cogitou vacinar toda a população foi no final de 1999 e início de 2000. Em Goiás, na Chapada dos Veadeiros, ocorria um grande surto de febre amarela. Ao mesmo tempo, havia alta infestação do mosquito Aedes aegypti em boa parte das cidades brasileiras. O aedes, além de transmitir o vírus da dengue, é o transmissor do vírus da febre amarela urbana.

Após intenso debate com especialistas das nossas principais instituições de pesquisa, o governo optou, como agora, não vacinar os moradores de áreas sem risco. A vacina é eficaz e segura. Porém, ela pode produzir efeitos colaterais, alguns graves; em raros casos, óbitos. No Brasil, há quatro mortes associadas à vacina a partir de 2000. Há fortes indícios de que já exista mais uma. Ocorreu quinta-feira, dia 31 de janeiro, em São Paulo: uma mulher que não precisava se vacinar - ela não pretendia viajar para região de risco - e, ainda, tinha contra-indicações. De 1999 a 2007, foram aplicadas no país cerca de 79,5 milhões de doses. Em janeiro de 2008, aproximadamente 6,3 milhões. Estão disponíveis somente na rede pública de saúde.

"Como a vacina é barata e o Brasil o maior produtor mundial, seria, em tese, mais fácil o Ministério da Saúde ceder à pressão da mídia e determinar a vacinação em massa", observa o médico epidemiologista e pesquisador Cláudio Struchiner, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). "Felizmente, prevaleceram os critérios científicos e tecnológicos."

"Deus me livre, vacinar todo mundo sem necessidade", reforça o infectologista Celso Granato, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Vacina não é como um comprimido de vitamina C, que você toma e elimina o excesso na urina." O infectologista Celso Ferreira Ramos-Filho, professor da URFJ e presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, é categórico: "O Brasil sempre seguiu à risca as recomendações internacionais para controle e prevenção da febre amarela. O problema é que a mídia fez uma mixórdia tremenda, a começar por confundir a forma urbana com a silvestre."

Ambas são doenças infecciosas, causadas pelo mesmo vírus. A última epidemia de febre amarela urbana aconteceu no Acre em 1942. Já a febre amarela silvestre não voltou por uma simples razão: ela nunca foi embora. É de 1692 o primeiro relato da doença no Brasil; foi um surto na Bahia. "Nem irá nos abandonar", antecipa Castilho. "A menos que se exterminem todos os macacos, o Haemagogus e o Sabethes. Algo totalmente irreal. Afinal, são seres silvestres e fazem parte da natureza."

O Haemagogus e o Sabethes (apenas durante a estação seca) são os mosquitos que transmitem o vírus da febre amarela silvestre ao homem. No país, de 1996 a novembro de 2007, há 349 casos confirmados, com 161 óbitos. O ano de maior incidência foi 2000: 85 casos confirmados, 40 óbitos. De dezembro de 2007 a dia 4 de fevereiro de 2008, há 25 casos confirmados e 13 óbitos. Os dados são da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde (MS).

"Não há epidemia de febre amarela - nem urbana nem silvestre", informa o médico epidemiologista Eduardo Hage Carmo, coordenador de Vigilância Epidemiológica do MS. "Existe uma situação de emergência: temos casos, mas não temos surto." A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) assinam embaixo. "O Brasil está no caminho certo", sustenta o médico epidemiologista Jarbas Barbosa da Silva Jr., gerente da área de Vigilância em Saúde e Manejo de Doenças da OPAS/OMS. "O governo tem que continuar adotando as medidas de controle e prevenção, como já tem feito."

Isso significa:

1) Vacinação de quem realmente precisa vacinar-se. "Incluem-se, aqui, as crianças que residam ou viajam para as áreas de risco", alerta o pediatra Gabriel Oselka, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e membro do Comitê Técnico de Imunizações do MS. Atualmente, a vacina faz parte do calendário infantil de vários estados brasileiros (veja mais adiante).

2) Vigilância de morte de macacos, para monitorar a circulação do vírus da febre amarela. Como eles são o "prato" predileto do mosquito transmissor da forma silvestre, funcionam como sentinela. A morte deles é um sinal de alerta, que exige investigação, para evitar casos humanos. Desde 2003, todos os estados têm equipes treinadas para fazer essa vigilância. "É um sistema bastante sensível que tem permitido detectar epizootias (morte de macacos pelo vírus da febre amarela silvestre) e intervir antes que o vírus chegue ao homem, prevenindo epidemias", salienta Ramos. Vigilância dos sintomas.

3) Nas regiões de risco de febre amarela, é obrigatória a notificação como suspeitos dos casos de pessoas com febre alta e icterícia (pele e olhos amarelados) ou febre alta e alguma hemorragia. E, em seguida, investigados, pois há muitas doenças com sintomas semelhantes.

4) Detecção precoce e tratamento dos casos suspeitos.

5) Combate ao Aedes aegypti. "A erradicação ou, pelo menos, a sua diminuição drástica só será possível com a ajuda de toda a população", adverte Struchiner. "Além de lutar contra a dengue, você estará ajudando a evitar a urbanização da febre amarela."

Grande parte da mídia, porém, ignorou essas e outras informações. Gerou a sua "epidemia", provocando desinformação, pânico, filas, vacinações desnecessárias, erradas, entre outros "efeitos colaterais". Por isso, juntamos, aqui, os doutores Euclides Castilho, Jarbas Barbosa da Silva Jr., Celso Ferreira Ramos-Filho, Cláudio Struchiner, Celso Granato, Eduardo Hage Carmo e Gabriel Oselka. Esses sete especialistas nos ajudaram a elaborar este guia para você se proteger - de verdade! -- da febre amarela.

Brasil só tem a forma silvestre

Doença infecciosa aguda, de curta duração (no máximo, 10 dias), gravidade variável, causada pelo vírus da febre amarela. Continua a ser importante problema de saúde pública nas Américas e África tropical. Tem dois tipos de transmissão: a silvestre e a urbana. No Brasil, a que existe é a febre amarela silvestre, restrita principalmente às áreas de matas e florestas.

Dos animais para o ser humano

Começando pelo tipo silvestre. O Haemagogus prefere o macaco. Aí, o mosquito, caso esteja contaminado, transmite o vírus ao primata, que então se infecta. Assim, um passa o vírus para o outro, sucessivamente. É um ciclo mosquito-macaco-mosquito.

Já o ciclo de transmissão da febre amarela urbana é diferente. Primeiro, o ser humano infectado pelo vírus da febre amarela precisa ser picado pelo Aedes aegypti. Depois, se o mosquito realmente se contaminar, o vírus se desenvolve. Mas, só numa picada posterior, a transmissão se completa. Desde que, é claro, essa pessoa nunca tenha entrado em contato com o vírus -- seja naturalmente ou pela vacina. A transmissão pelo Aedes é que a caracteriza. "Febre amarela urbana não significa caso de pessoa que reside na cidade, como muitos pensam", avisa Hage. "No momento, é muito remoto o risco desse tipo no Brasil."

Onde "mora" o perigo


A fonte deste mapa é a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Nele, é possível visualizar todas as áreas de risco de febre amarela silvestre no Brasil. Cada cor corresponde a um tipo de risco:

* Verde significa região endêmica. São os estados onde a circulação do vírus é constante e o risco, permanente; em geral, tem poucos casos, devido à maior vacinação da população. No ambiente silvestre, porém, a reprodução dos mosquitos está mais ligada a um ciclo natural, sazonal. Assim, a cada cinco a oito anos, tem um pico. Foi o que aconteceu em Goiás, em 2000. É o que acontece agora nos estados com casos humanos e mortes de macacos.

* Vermelho, a área intermediária, ou de transição. Nela, o vírus circula em baixa intensidade, esporadicamente. É uma área de risco médio. Entretanto, ocasionalmente, também pode ter picos, como os observados, em 2001, no Rio Grande do Sul (em macacos), e, em 2001 e 2003, em Minas Gerais (em macacos e humanos).

* Amarelo, a área de risco potencial. Até o momento, não apresenta circulação de vírus da febre amarela. No entanto, é vulnerável, pois:

1) apresenta características ecológicas semelhantes àquela onde, em 2003, ocorreu o surto em Minas Gerais;

2) é uma região muito próxima da zona de transição. Tanto que, nela, há uma busca sistemática de macacos doentes ou mortos.

* Azul, a área indene, isto é, sem risco de febre amarela. Além de não haver circulação do vírus, não tem contigüidade com áreas onde ele circula.

Como você pode se infectar

O vírus da febre amarela não se "pega" como o vírus da gripe, por exemplo. A transmissão não é ser humano a ser humano. É preciso um agente intermediário. No caso, os mosquitos transmissores do vírus da febre amarela, principalmente o Haemagogus, o mais freqüente: "O Haemagogus só nos pica quando entramos de bicão no pedaço dele, e ele não tem outro alimento mais apetitoso por perto", fala sério Ramos-Filho. "Aí, o ser humano acidentalmente se infecta, caso não esteja imune."

Portanto, tem risco de se infectar quem:

* Reside nas zonas verde, vermelha e amarela do mapa da SVS/MS e não tomou a vacina.

* Viaja para essas mesmas zonas, em qualquer época do ano e não se vacinou.

Sintomas: três a seis dias após a infecção

Nem todas as pessoas infectadas pelo vírus da febre amarela têm sintomas. Nas que apresentam, eles geralmente aparecem três a seis dias após a pessoa ser picada: febre, calafrios, vômitos; dores de cabeça, nas costas e musculares; fadiga e fraqueza. Essa fase pode ser seguida por ligeira melhora, que dura, em média, 24 horas. Porém, nos casos graves, a febre alta e demais sintomas reaparecem acompanhados de hemorragia de gengiva, nariz, estômago, intestino e pele (manchas vermelhas no corpo). Icterícia (pele e olhos ficam amarelados) e presença de proteínas na urina freqüentemente ocorrem nos casos graves. Nos estágios mais avançados, a pessoa pode ter hipotensão, necrose do rim, arritmia cardíaca. Também entrar em coma.

"Não há tratamento específico para a febre amarela", adverte Euclides Castilho. "Os tratamentos são apenas para os sintomas."

Fatal em cerca de 50% dos casos

Entre as pessoas infectadas pelo vírus da febre amarela e que têm sintomas, cerca de 50% morrem. No Brasil, dos 349 casos confirmados de 1996 a novembro de 2007, 161 foram a óbito. Atente à situação, ano a ano.

Vacina, a única prevenção eficaz

Só há uma forma segura de prevenir a febre amarela: vacina. É fabricada com vírus vivo da doença, atenuado, em oito países: Brasil, França, Estados Unidos, Inglaterra, Índia, Rússia, Colômbia e Senegal. São oitos laboratórios, todos pré-qualificados pela OMS. Apenas três produzem para o mercado global, entre eles: Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz - o maior produtor mundial; e o Instituto Pasteur, na França. A vacina é a mesma. De 1999 a janeiro de 2008, foram aplicadas aproximadamente 85,8 milhões de doses no Brasil. Tem validade de dez anos.

"É uma vacina eficaz e segura", garante Jarbas Barbosa, da OPAS/OMS. Gabriel Oselka frisa: "A eficácia é praticamente de 100%".

Descubra quem deve se vacinar e por quê

Deve ser vacinado quem:

* Ainda não se vacinou e reside em: todos os estados das regiões Norte e Centro-Oeste; todos os municípios do Maranhão e Minas Gerais; municípios do sul do Piauí, oeste e sul da Bahia, norte do Espírito Santo, noroeste de São Paulo e oeste de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

* Vai viajar para esses mesmos lugares por qualquer motivo - negócios, visita a familiares, trabalho, ecoturismo. Importante: a vacina deve ser tomada dez dias antes da viagem, independentemente da época do ano.

* Vai viajar ou procede de países com alto risco de febre amarela, estabelecidos pela OMS.

"Além de estar na agenda de vacinação internacional, a vacina faz parte, desde a década de 1990, do calendário de imunização infantil da região endêmica", informa Eduardo Hage. "A partir de 2004, tornou-se também sistemática para adultos dessa região, assim como para crianças e adultos da área de transição."

Na certa, a esta altura, tem gente objetando: "Se a pessoa reside ou pretende viajar para a área vermelha ou amarela por que se vacinar?"

"Primeiro, você deve se vacinar, sim", rebate Cláudio Struchiner. Por várias razões: 1) Tem risco potencial; 2) Proteger a si próprio de eventual picada por mosquito contaminado; 3) Ajudar a impedir a urbanização da febre amarela. Uma vez vacinadas, as populações das áreas de transição e de risco potencial funcionam como barreiras de proteção entre a população urbana e a região silvestre, onde a transmissão está se dando. Quanto menos pessoas infectadas pelo vírus da febre amarela nas cidades, menor a probabilidade de os mosquitos urbanos - leia-se Aedes aegypti - se contaminarem e passarem a transmitir a doença. Aí, sim, pode ocorrer a febre amarela urbana.

"Mas eu moro em Brasília, onde o risco é zero. Por que me vacinar?", mais gente deve replicar. "Em Manaus, o risco de febre amarela também é zero. E aí?"

"Realmente, nas cidades citadas o risco é zero. Mas que certeza vocês têm de que nunca irãoaos seus arredores, como Pirinópolis, próximo a Brasília?", devolve o desafio Celso Ramos. "Muitas vezes um simples churrasco rural pode ser uma fonte insuspeitada de risco." Não à toa Jarbas Barbosa é taxativo: "Moradores de áreas de risco devem se vacinar, mesmo que vivam em cidades. Muito provavelmente vocês têm eventualmente contato com ambientes silvestres próximos, como chácaras, cachoeiras, rios e áreas de camping".
Atenção às contra-indicações

Como qualquer vacina composta de vírus vivos (mesmo que atenuados) e cultivados em embriões de ovos de galinha, a da febre amarela tem contra-indicações:

* Bebês com menos de seis meses; há risco de encefalite (inflamação do cérebro).

* Pessoas alérgicas, especialmente a ovo; têm risco de reação grave.

* Pessoas com baixa imunidade devido a doenças ou ao tratamento delas. Por exemplo, câncer, transplante de órgãos ou lupus, que exigem remédios imunossupressores, como corticosteróides em altas doses.

* Gestante ou mulher que pretende engravidar; há risco teórico de o vírus da vacina atravessar a placenta e causar encefalite no feto.

"Quanto a pacientes HIV-positivos, não existem dados que permitam uma posição inconteste", informa Ramos. Há relato de um caso de reação indesejada na Tailândia. É preciso, portanto, avaliar caso a caso, pesando risco e benefício.

Reações adversas: leves, as mais comuns

Também como toda vacina fabricada com vírus vivos atenuados, a da febre amarela tem efeitos colaterais. Os mais comuns: dor no local da injeção - é imediata; febre baixa, dor de cabeça e mal-estar - três a oito dias após a vacinação. Atingem 5% a 15% dos vacinados. "As reações mais comuns, portanto, são leves, em sua intensidade", enfatiza Celso Granato.

A vacina pode, ainda, eventualmente causar:

* Asma, urticária e até choque anafilático em pessoas alérgicas a ovo ou outro componente utilizado na preparação da vacina. Ocorre menos de 1 caso por um milhão de vacinados.

* Encefalite. É uma reação grave, temida, mas muito rara. Surge cerca de 12 dias após a aplicação da vacina, e se manifesta por febre, dor de cabeça, irritabilidade, sonolência/torpor/coma e convulsões. É mais comum em bebês com menos de seis meses, daí a contra-indicação para eles. Depende da cepa viral usada. Especificamente a cepa francesa, utilizada na vacina manufaturada no Senegal.

* Simulação de febre amarela. Casos esporádicos têm sido verificados ultimamente, com graves danos aos rins e fígado. Esses casos ocorreram em pessoas com doença do timo (glândula situada em frente à traquéia, muito importante para a produção de substâncias de defesa do organismo) e em indivíduos acima de 65 anos.

"Temos em investigação 47 casos suspeitos de reação à vacina; 21 foram hospitalizados com reações moderadas a graves", informa Eduardo Hage. Qualquer pessoa que toma a vacina e, em dez dias, apresente febre, manchas avermelhadas no corpo ou reações mais graves, como icterícia ou hemorragia, deve ser considerada como caso suspeito de reação adversa. E, aí, só uma investigação laboratorial confirmará, pois os sintomas de reação à vacina podem se confundir com os de várias doenças.

1 óbito para cada 1 milhão de vacinados

O risco de óbito é uma possibilidade remota. Não é exclusividade da vacina contra a febre amarela. Também não é um problema da vacina brasileira. Aconteceu igualmente com a fabricada nos Estados Unidos.

"Num estudo que realizamos em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, estimamos a possibilidade de 1 óbito para cada 12 milhões de doses aplicadas", revela Cláudio Struchiner. Já o Ministério da Saúde trabalha com uma probabilidade maior: 1 óbito para cada um milhão de vacinados. "É que levamos em conta o total de doses aplicadas no país e o total de efeitos colaterais relatados à SVS", explica Hage.

Conclusão: só tem sentido vacinar uma população quando o risco de ela se infectar pelo vírus da febre amarela é maior do que o risco de reações adversas graves da vacina. No caso da região indene (em azul, no mapa), seguramente o risco da vacina é maior.

Uma dose a cada dez anos

A vacina contra a febre amarela protege você por dez anos. Portanto, só a cada dez anos, você tem que se revacinar.

"É errado tomar duas, três doses seguidas", adverte Gabriel Oselka. A vacina não é um remédio qualquer. É um produto imunobiológico que contém vírus vivo atenuado. Como o posto de saúde não pode negar a ninguém a vacina, o controle está em suas mãos. Uma dose só, a cada dez anos!

Todos podem ajudar. Faça a sua parte!

Portanto, esta é a realidade hoje:

1) Se você mora ou vai viajar para região de risco de febre amarela, vacine-se se ainda não o fez.

2) Se tem alguma das contra-indicações citadas ou outro problema de saúde, consulte o seu médico ou uma Unidade Básica de Saúde antes de se vacinar. Nesses casos, é preciso colocar na balança o risco e o benefício de cada situação.

3) Se mora em área sem risco, melhor para você. Está livre da vacina. Não caia na armadilha do "se bem não faz, mal também não vai fazer". Em se tratando da vacina contra a febre amarela, isso é uma roubada.

4) Não deixe a água se acumular nos vasinhos de plantas, tampe a caixa d´água, não jogue pneus nem garrafas de refrigerante ou latinhas de cerveja nas ruas. Isso - você sabe muito bem - combate a proliferação do mosquito Aedes aegypti. O benefício é duplo. Você ajuda a diminuir a dengue e a prevenir a urbanização da febre amarela. Faça a sua parte. Proteja-se de verdade!

Escrito por Eduardo Guimarães

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

VIOLÊNCIA: REALIDADE E FICCÇÃO

Em princípio, toda proibição é burra. Serve, apenas, para acirrar a curiosidade. Mas, tudo bem, numa sociedade que se queira com um mínimo de civilização e civilidade, algumas regras precisam ser criadas e estabelecidas. Dentro do limite do bom senso, dos usos e costumes e, principalmente, sem fanatismos.

Um juiz proibiu e mandou recolher um determinado jogo de computador, por considerá-lo violento. E reacende o debate sobre o que nossos filhos podem ou não ver. Ou sobre o que nós mesmos, cidadãos responsáveis, ou não, podemos escolher para assistir. Um debate sobre liberdade e violência. Assuntos complexos, merecedores de muita, muita tinta, muita saliva e muitas desavenças. Porque não há e não pode haver versões únicas, absolutas.

Mas vou meter minha colher (de pau? Ou é minha cara que é de pau?) nessa encrenca.

Ora, um jogo de computador é só um jogo de computador. Por mais violência que ele pareça conter ou realmente contenha, é ficção. Como um filme, ou um romance. Ou uma peça de teatro. Ou uma pintura. Por mais realista (entre aspas) que sejam um filme, um romance, uma peça de teatro ou um quadro, não passam de criações ficcionais, de representações da realidade. Não são a realidade.

Já é folclore o quadro de Magritte com um cachimbo e escrito embaixo: ceci n'est pas une pipe (isto não é um cachimbo). Ninguém mais discute o que quis dizer o pintor, embora na época tivesse provocado mentes e, provavelmente juizes ansiosos por estabelecerem a tal realidade absoluta das coisas.

A representação da realidade não é a realidade, por mais que estrebuchem os profetas da moral. Lembro um livro, Os Sete Minutos. Trata-se do julgamento, muito do gosto estadunidense, de um livro, por ser considerado imoral e por ter, aparentemente, induzido um rapaz a cometer um crime. Nem vou comentá-lo, quem quiser que o leia. Mas, a moral da história, o que se julga é se é possível alguém cometer um crime influenciado por uma obra de ficção e discute-se, afinal, o que é pornografia e o que é arte.

Também se pode discutir o que é violência ficcional e o que é violência das ruas, dos programas jornalísticos de televisão que pedem vingança e não justiça por qualquer crime cometido, de certas letras de rap (rithm and poetry – ritmo e poesia, não é música, por favor! – não confundam as coisas!) que incitam à sexualidade precoce, à violência contra a polícia ou contra a sociedade... isso é mundo real, é realidade. Não o filme, não o jogo, nem um quadro de Goya, por mais assustador que seja, nem, principalmente, um livro ou qualquer outra representação artística.

Personalidades genética ou socialmente deformadas confundem, sim, realidade com ficção. Mas não com a ficção criada por outros: com a ficção criada em seus próprios pensamentos, por sua imaginação doentia. Não será uma obra de arte que fará com que um Champinha da vida saia por aí torturando e matando pessoas, ele já faz isso por índole, por desvios de caráter, por mil outras motivações.

Então, proibir um jogo de computador, por ser violento, vai contra não apenas a lógica, mas contra todas as evidências que por aí se podem achar. É mais ou menos como acreditar em fantasma – não existe, mas muita gente acha que já viu um. Achar que um jogo de computador pode incitar à violência é acreditar em fantasmas. E fantasmas já os temos aos borbotões nessa nossa sociedade complicada e cheia de preconceitos e idéias estúpidas, para concordarmos com mais essa idiotice.

Afinal, um juiz é só um juiz, não a representação da Justiça que, aliás, como todo ente metafísico, tem tanta existência real quanto os fantasmas que seus representantes criam, para impor suas idéias ultrapassadas e eivadas de moralismo mal-cheiroso.

Pra encerrar: não vou citar Caetano Veloso, porque não concordo que é proibido proibir.

Chega de proibições, não?


Isaias Edson Sidney

24.1.2008

Obs.: Permitida e, até, incentivada a divulgação, desde que citados o autor e, pelo menos, o blog

Veneno de cobra:

http://www.venenodecobra2003.blogger.com.br